sábado, 24 de novembro de 2012

ARTIGO "ALIMENTAÇÃO DO PRÉ-ESCOLAR E ESCOLAR"


Alimentação do pré-escolar e escolar
Paula Cristina de Oliveira Faria Cardoso

Alimentação do pré-escolar
A alimentação do pré-escolar (de 2 a 6 anos) e do escolar (de 7 anos à puberdade) varia conforme a influência do código genético portado por cada criança e do meio em que se encontra, aí incluída a alimentação oferecida pela família, suas condições sócio-econômicas e outros elementos identificados até os 2 anos de idade.
Desse modo, a orientação e avaliação adequadas acerca da nutrição dessas crianças depende da obtenção dessas informações por meio de uma investigação médica profunda e pormenorizada.


É importante ter em mente que as demandas quantitativas de nutrição de crianças em fase pré-escolar ou escolar são mais reduzidas com relação àquelas de crianças de colo e de adolescentes. Os pré-escolares apresentam ritmo de crescimento menor que aquele mantido até os 2 anos, porém ganham mais altura em relação ao peso, o que dá aos pais a sensação de emagrecimento, trazendo com isso preocupação.
Também nessa fase iniciam-se as atividades sociais, de modo que a alimentação já não ocupa mais lugar de destaque entre as preferências da criança. Isso pode trazer com frequência a neofobia alimentar, tornando necessárias várias exposições a determinado alimento até que ele seja aceito, bem como a redução na alimentação. Esta última constitui queixa frequente dos responsáveis pela criança, porque é frequentemente entendida como um como sintoma de doença, que na verdade não existe.
Por todos esses motivos, se não houver acompanhamento próximo dos pais ou responsáveis e a adoção de técnicas corretas e uma alimentação nutritiva, os anos pré-escolares podem representar vulnerabilidade às deficiências nutricionais e até mesmo à desnutrição, repercutindo gravemente sobre o desenvolvimento e o crescimento da criança. Afinal, trata-se de uma fase de transição alimentar, que deve ser tratada com cautela.
Um exemplo disso é que, nessa idade, o abandono gradativo das mamadas noturnas inicia. Por isso, o volume de leite ingerido diariamente, bem como o uso da mamadeira, deve ser reduzido nessa etapa, sob pena de que a criança se recuse a ingerir refeições de outras espécies. Isso traz como consequências diversas moléstias relacionadas à desnutrição, como a constipação intestinal, vômitos frequentes, deformidades da arcada dentária, distúrbios de linguagem, anemia ferropriva, anorexia, prejuízo da dentição, entre os principais problemas decorrentes.
Esses efeitos drásticos ocorrem porque a necessidade energética é maior entre os 3 e 4 anos de idade, afinal, nessa etapa da infância a criança se encontra em período de crescimento e desenvolvimento. Assim, todos os nutrientes são importantes, mas nessa fase da vida o ferro e as proteínas merecem atenção especial. Os alimentos energéticos, que estão na base da pirâmide alimentar, previnem a desnutrição quando ingeridos de acordo com as quantidades recomendadas.
Contudo, já a partir dos 3 anos de idade a criança manifesta preferências nítidas e recusa alimentos que não gosta. Essas características devem ser respeitadas. Isso porque é nessa idade que a criança desenvolve sentidos e diversifica os sabores, estabelecendo, com isso, seus próprios gostos.
O atendimento a algumas orientações pode ajudar pais e responsáveis a evitar as consequências da desnutrição infantil na fase pré-escolar e garantir que a transição alimentar da criança seja feita com sucesso. Tais orientações são as seguintes:
· Estabelecer horários regulares para as refeições;
· Priorizar alimentos sólidos e variados, valorizando-se a apresentação (aspecto, cor, odor e textura dos alimentos), com o objetivo de torná-los mais atraentes e palatáveis;
· Permitir e estimular a manipulação/exploração dos alimentos com as próprias mãos e com talheres, o que incentiva o desenvolvimento motor e cognitivo da criança;
· Oferecer alimentos de diversos grupos (cereais e tubérculos, hortaliças e carne);
· Oferecer alimentos sem temperos fortes ou condimentos picantes, preferindo temperos naturais;
· Oferecer pequenos volumes de alimentos de cada vez, de modo a não ultrapassar a capacidade da criança de receber e digerir alimentos;
· Apresentar os legumes e as verduras de forma gradativa, iniciando com purês, suflês e refogados;
· Limitar a quantidade de bebidas antes ou durante as refeições, pois o líquido pode levar à sensação de saciedade por distensão do estômago, bem como preferir sucos naturais aos refrigerantes e às bebidas de sabor artificial;
· Substituir e/ou ofertar novamente alimentos recusados em refeições (dias) futuros;
· Realizar pelo menos uma das refeições à mesa com os adultos e/ou irmãos mais velhos;

Alimentação do escolar
Esse período do desenvolvimento humano apresenta maior atividade física e taxa de crescimento constante, com acentuado ganho de peso próximo ao estirão da adolescência. Com o acréscimo da atividade física, aumentam-se as necessidades energéticas diárias. Ao mesmo tempo, o trato gastrintestinal está mais desenvolvido e o volume de alimento tolerado passa a ser semelhante ao do adulto, tornando possível a satisfação da demanda nutricional.
No plano social, verifica-se a crescente independência da criança, com a formação de novos laços sociais com adultos e indivíduos da mesma idade. Tais mudanças, aliadas ao processo educacional, determinam o estabelecimento de novos hábitos e estimulam o aprendizado em todas as áreas.
No período escolar, o aumento da socialização e da independência tornam possível a melhor aceitação de alimentos diferentes e mais elaborados.  Muitas vezes a criança manifesta interesse pelas preparação dos alimentos, devendo ser estimulada a elaborar refeições de fácil preparo e seus próprios lanches.
Nessa etapa do desenvolvimento, as refeições devem incluir, pelo menos, café da manhã, almoço e jantar. A merenda escolar deverá ser preparada de acordo com os hábitos regionais, evitando-se o uso de alimentos isentos de valor nutricional. Assim, é primordial que os pais sejam orientados acerca da importância de não permitir que a criança permaneça sem se alimentar por longos períodos, bem como do papel do lanche escolar para evitar que isso aconteça.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CAMPOS JÚNIOR, Dioclécio; LOPEZ, Fabio Ancona. (Org.). Tratado de pediatria. Barueri, SP: Manole, 2007.
MORAIS, Mauro Batista de; CAMPOS, Sandra de Oliveira; SILVESTRINI, Wagner Sérgio. (Coord.). Guia de pediatria. Série Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Barueri, SP: Manole, 2005.

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