Desnutrição proteico-energética
Por Hamilton Franco
Filho
A desnutrição proteico-energética (DPE)
é uma patologia grave e freqüentemente letal em crianças menores de 5
anos. Essa doença é especialmente comum em países com intensa
desigualdade social sendo o fator principal nas taxas de mortalidade em crianças
menores em regiões de baixa renda.
A diminuição da ingestão de alimentos
nesse grupo de indivíduos pode estar ligado ao elevado custo dos
mesmos.Contudo, isso pode ser não uma carência quantitativa em si e
sim uma falha qualitativa na distribuição dos grupos alimentares.
Essa deficiência pode ser originada por desconhecimento, hábitos culturais, ou
mesmo pela dificuldade de acesso a certos nutrientes da dieta , como por
exemplo, o elevado preço de carnes. A DPE se apresenta em duas formas
principais: o marasmo e o kwashiorkor.
O marasmo ocorre quando a criança reduz
seu peso a 60% do ideal.Ele é caracterizado por um retardo no crescimento
infantil e uma perda de massa muscular. O déficit na ingestão de alimentos calóricos
gera uma resposta adaptativa do organismo o qual fornece aminoácidos como fonte
energética.Isso leva ao catabolismo das proteínas e depleção do compartimento
somático protéico ( músculo esquelético). Como o compartimento visceral
protéico não é atingido as medidas laboratoriais de albumina são normais.
Além da mobilização protéica a criança
com marasmo consome toda sua reserva de gordura subcutânea. Os níveis séricos
do hormônio leptina são baixos estimulando o eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal
a aumentar a secreção de cortisol, o qual age induzindo a lipólise.
A apresentação clínica dessa criança
geralmente apresenta edema nas extremidades; desproporção entre a cabeça e o
restante do corpo; imunodeficiência, em especial mediada por células T,
quadros de infecções repetitivas;
O termo Kwashiorkor é oriundo do
dialeto Ga, de Gana, e representa a doença da criança por causa da chegada de
outro bebe. Essa patologia ocorre devido a uma perda protéica muito mais
intensa que a perda energética. A causa mais comum é a alimentação infantil a
base quase exclusivamente de carboidratos, o que gera uma carência de proteínas
e vitaminas. Menos freqüentemente pode ocorrer em indivíduos com diarréia
crônica por enteropatias com perda protéica, síndrome nefrótica ou após grandes
queimaduras. No entanto, esses casos costumam ser leves.
A perda protéica é evidenciada pela
intensa depleção do compartimento protéico visceral. Bioquimicamente isso pode
ser observado por uma hipoalbuminemia , a qual não ocorre no marasmo. Outra
diferença entre as duas doenças e a preservação da massa lipídica que ocorre no
Kwashiorkor e a depleção da mesma que acontece no marasmo.
O déficit de albumina pode levar a um
edema generalizado e ascite. Isso pode mascarar a perda de peso que ocorre
nessas crianças. Lesões de pele são muito comuns e apresentam um perfil
característico de zonas alternadas de áreas com hipopigmentação, descamação e
hiperpigmentação. O cabelo dos indivíduos afetados pode apresentar-se com uma
perda geral da cor, ou alternar entre regiões pálidas e escuras.
A esteatose hepática geralmente está
presente marcada por um fígado grande e gorduroso. Ela é causada pela
diminuição da síntese do componente de transporte lipoprotéico. O intestino
delgado revela uma diminuição no índice mitótico nas criptas das glândulas com
atrofia muscular e perda de vilos e microvilos.Essa alteração é reversível com
o tratamento e explica porque bebes com kwashiorkor inicialmente reagem mal a
dietas à base de leite. Uma queixa comum é a perda de apetite.
A medula óssea costuma estar
hipoplásica devido à queda no número de hemácias precursoras, o que leva a uma
a anemia leve ou moderada. Por isso, o paciente pode apresentar queixas de
apatia ou apresentar-se indiferente.
Pode estar presente uma atrofia do timo
e dos linfonodos e como conseqüência uma deficiência imunitária. Essa
imunodeficiência predispõe a infecções secundárias, principalmente por vermes
endêmicos e outros parasitas, que podem levar a alterações anatômicas.
Por se tratarem de desordens
essencialmente alimentares o marasmo e o kwashiorkor são comumente sobrepostos.
Apesar de a obesidade vir se mostrando como a nova desordem nutricional da
população brasileira, ainda há uma discordância com a desnutrição infantil. Nos
primeiros cinco anos de vida ainda existem elevado número de casos de
desnutrição infantil. Contudo, esse perfil se altera após os 18 anos de idade
onde prevalece quadros de obesidade. A razão dessa alteração ainda não é
completamente explicada
Referências bibliográficas:
Robbins e Cotran,
bases patológicas das doenças / Vinay Kumar… [ et al.] ; [ tradução de Patrícia
Dias Fernandes… et al. ]. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2010
Malaquias Batista FilhI; Anete Rissin; A
transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais , Cad.
Saúde Pública vol.19 suppl.1 Rio de
Janeiro 2003
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