Desenvolvimento Neurológico e Psíquico da Criança e
do Adolescente
Por Paula
Cristina de Oliveira Faria Cardoso
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da criança pode ser definido como
sendo as mudanças sequenciais e organizadas que permanecem e incidem sobre
estruturas físicas, neurológicas, processos de pensamento, emoções e maneiras
de interação social das pessoas. Para que se possa entender completamente esse
processo de desenvolvimento, é preciso compreender o modo como influências
genéticas e ambientais se relacionam para determinar a saúde de uma criança.
PRIMEIRA INFÂNCIA (0 A 3 ANOS)
O Recém-nascido é dependente do adulto,
indefeso. Não controla músculos, tampouco consegue levantar a
cabeça, nem se vira sozinho, geralmente, permanece na posição em que
foi deixado.
Nos três primeiros anos de vida ocorre intensa
maturação neurológica. O sistema nervoso central (SNC) evolui anatomicamente
por meio de processos de proliferação, migração e diferenciação de células
nervosas, estabelecimento de sinapses e mielinização. Por causa disso, o SNC
mantém grande plasticidade nos primeiros anos de vida, com rápido
desenvolvimento de áreas sensoriais e motoras.
Ao fim dos dois primeiros meses de vida, o bebê
inicia a conexão de suas habilidades sensoriais com o ambiente. Há um aumento
do período em que ele permanece acordado e, por causa disso, maior interação
com o ambiente e com as pessoas que dele cuidam. Observa-se também que o exame
visual de pessoas e objetos se dá com maiores detalhes, com o início do sorriso
social.
Estabelecem-se funções cerebrais importantes, como
a função motora, perceptiva, proprioceptiva, cognitiva, afetiva e de linguagem,
que permitem a interação da criança com o meio em que vive.
Aos quatro meses o bebê já
se vira sozinho, quando deitado de costas vira-se de abdome para baixo,
mantém-se sentado por alguns períodos, movimenta-se em várias posições, leva
tudo à boca para morder ou chupar. Suas mãos são capazes de pegar
objetos. Rola de um lado para outro, aprecia o banho, agitando-se no mesmo.
No segundo semestre de vida ocorre
aumento significativo dos movimentos e do campo de ação da criança. Com 6
- 7 meses senta-se sem apoio, vira de bruços, apóia-se nas mãos.
Com 9 meses tenta pôr-se em pé. Anda com 1 ano,
geralmente. Pega objetos, segura-os com firmeza e leva-os à boca.
Com 1 a 3 anos surge motivação forte e constante
para explorar o ambiente. Mas a coordenação motora é insuficiente.
Nessa idade o bebê é incapaz de reconhecer riscos.
SEGUNDA INFÂNCIA (PRÉ-ESCOLAR)
Ocorre a consolidação das habilidades adquiridas
anteriormente, com o emprego de modo mais sofisticado dessas funções. Ocorre a
melhora das habilidades motoras amplas, tornando-se possível o desenho e o uso
de talheres. O controle do corpo fica mais preciso, e inicia a preferência pelo
uso de uma das mãos.
Há um rápido crescimento da linguagem; o
vocabulário aumenta e a comunicação fica mais próxima à do adulto, quanto à
sintaxe e gramática, o que a torna quase totalmente compreensível.
Entre 3 a 7 anos a criança tem uma percepção egocêntrica
e irreal do seu ambiente, não sendo ainda capaz de aprender
noções de segurança. Possui muita energia, curiosidade, movimentação rápida e
pequena capacidade de previsão de riscos. Seu pensamento é mágico (desenhos
animados).
TERCEIRA INFÂNCIA (ESCOLAR)
Nessa fase ocorre a consolidação das habilidades já
adquiridas, o que torna possível o distanciamento de casa e dos pais e a
participação de modo mais intenso na sociedade. As crianças passam a ser mais
responsáveis pelos próprios comportamentos em novas situações. Para tanto, o
desenvolvimento motor é importante, com o aumento da força, agilidade e
equilíbrio. Isso torna possível o exercício de atividades como andar de
bicicleta sem auxílio, andar de skate, nadar e escalar.
Entre 7 a 10 anos surgem as noções de
segurança. A criança identifica-se com super-heróis. Suas habilidades motoras
estão bem além do seu julgamento crítico. Sem a supervisão de adultos, os
acidentes que podem ocorrer já refletem imprudência ou desorientação.
Por volta de 6 a 12 anos de idade, as crianças
passam quase metade do tempo na companhia de outras de mesma idade. Assim,
formam-se grupos e uma estrutura social com várias categorias (populares,
rejeitadas, introvertidas e vitimizadas, entre outras). Verifica-se o
desenvolvimento de brincadeiras que evidenciam a separação entre sexos. Também
nesse ponto observam-se diferenças, sendo que a fantasia é substituída pela
obediência a regras.
Nessa fase, a criança tende a dar mais importância
à opinião dos amigos que à dos professores e pais. Aprendem a iniciar, manter
e, se for necessário, terminar amizades. Passam, portanto, por experiências de
sucesso e fracasso social. Nesse contexto é que se desenvolve o autocontrole,
com a formação de sistemas mais realistas e equilibrados.
ADOLESCÊNCIA
Na adolescência, que dura geralmente entre os 10 e
20 anos de idade (no Brasil, está fixada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente entre os 13 e 18 anos). É uma fase de intensas e visíveis
transformações, uma vez que o adolescente busca de modo ruidoso ocupar o papel
no local onde vive. As mudanças físicas, com a puberdade, o aparecimento de
caracteres sexuais secundários e o crescimento físico, também são notáveis.
Os adolescentes vão a festas, namoram, desejam mais
liberdade e independência. Possuem controle motor completo, autonomia,
raciocínio lógico e opção de livre-arbítrio. Pelas suas características de
insegurança (com todas estas modificações tão rápidas que estão ocorrendo),
desafiam regras pré-estabelecidas, praticam exibicionismo e demonstram sintonia
com grupos, mesmo que anti-sociais.
Nessa fase, a maturação cognitiva intermedia o
desenvolvimento emocional, havendo elevado desenvolvimento da capacidade de abstração.
A adolescência pode ser dividida em três fases:
1) Entre 10 a 14 anos, com redução do interesse
pela família e identificação com amigos, em geral do mesmo sexo. Nessa fase,
ocorre uma adaptação às modificações corporais, modificação de hábitos e
aumento da privacidade.
2) De 14 a 17 anos, em que a identificação com o
próprio grupo social aumenta ainda mais, com a admissão de amizades e
relacionamentos com pessoas de outro sexo. Geralmente nessa fase as relações
sexuais se iniciam. As modificações próprias da puberdade se encerram.
3) A adolescência tardia, dos 17 aos 20 anos, que traz
uma reaproximação da família, com a adoção de valores e comportamentos próprios
do adulto. Inicia a busca por estabilidade social e financeira, bem como a
procura de relacionamentos mais caracterizados pela afetividade.
REFERÊNCIAS
LOPEZ, Fabio Ancona; CAMPOS JÚNIOR, Dioclécio.
(Org.). Tratado de pediatria. Barueri, SP: Manole, 2007.
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