Avaliação da Dor no Recém-nascido
Por Wânia Martins Freitas
Albuquerque
A Associação Internacional para o Estudo da Dor,
conceitua a dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável,
associada a uma lesão tecidual real, potencial ou descrita nos termos dessa
lesão. Seguindo esse conceito, os pacientes que não possuem condições verbais
de expor o que sentem, como os recém-nascidos (RNs), acabam sendo
desconsiderados. Apesar de não verbalizarem a dor, isso não significa que os
RNs não a sintam.
A ausência de pesquisas sobre a dor neonatal,
permitiu o aparecimento de muitos conceitos errôneos sobre o assunto.
Acreditava-se que o RN não apresentava sensibilidade dolorosa devido à
mielinização incompleta de suas fibras nervosas, além da falta de memória para
registrar as experiências dolorosas. Isso dificultou a abordagem terapêutica da
dor no neonato e levaram profissionais de saúde a conduzirem procedimentos
invasivos sem anestesia ou com subdoses analgésicas.
Atualmente já se tem conhecimento que, além de
serem sensíveis a dor, os RNs podem sofrer conseqüências orgânicas e emocionais
e comprometer o seu crescimento e o seu desenvolvimento. Tanto prematuros como
a termo, percebem e reagem à dor da mesma maneira que crianças e adultos.
Com isso, a dor dos indivíduos que não podem
exprimi-la por meio de palavras torna-se um fenômeno a parte, sendo evidenciada
por meio da presença de respostas comportamentais e fisiológicas aos estímulos
nociceptivos.
Avaliação dos parâmetros fisiológicos:
Os parâmetros fisiológicos mais utilizados para a
avaliação do fenômeno dolorosos na prática clínica são a freqüência cardíaca, a
freqüência respiratória, a saturação de oxigênio e a pressão arterial
sistólica, a apnéia, a cianose, os tremores e a sudorese. Esses parâmetros não
são objetivos, visto que um estímulo nociceptivo, ou um estímulo desagradável
pode gerar alterações similares, além de sofrerem influência da condição
clínica do paciente. Portanto, apesar de úteis para avaliação da dor à beira do
leito, isoladamente não pode ser usado para caracterizar dor no RN.
Avaliação comportamental:
A avaliação comportamental da dor baseia-se na
alteração de determinadas expressões comportamentais após um estímulo doloroso.
Apesar de ser mais sensível e específico na detecção da dor quando comparada às
medidas fisiológicas, tais parâmetros têm a desvantagem de possuírem pouca
precisão quanto à mensuração do fenômeno doloroso, dependendo da interpretação
do observador. Dentre os comportamentos que podem indicar dor no RN estão, a
mímica facial, o choro, o padrão de sono e vigília e a agitação.
Manifestações
do RN diante um estímulo doloroso:
·
Rigidez
do tórax;
·
Flexão e
extensão das extremidades;
·
Movimentos
específicos das mãos: presença da mão espalmada com os dedos esticados e o
fechamento súbito da mão;
· Alterações
de mímica facial: fronte saliente, fenda palpebral estreitada, sulco
naso-labial aprofundado e movimentos da boca, lábios e língua como, lábios
entreabertos, boca estirada no sentido horizontal ou vertical, língua tensa e
tremor de queixo;
·
Choro
específico de dor: fase expiratória prolongada, a tonalidade mais aguda, há
perda do padrão melódico e a duração do choro aumenta (o choro do RN, de
maneira geral, apresenta uma fase expiratória definida, seguida por uma breve
inspiração, um período de descanso e, de novo, uma fase expiratória, e presença
de um padrão melódico);
· Aspectos
emocionais: aumento sono não-REM, a indisponibilidade destes recém-nascidos
para o contato visual e auditivo com a sua mãe, que perdura nas 24 a 36 horas
seguintes ao procedimento doloroso (interferência no padrão alimentar do RN e
na relação mãe-filho);
OBS: Esses itens citados acima
constituem apenas um dos parâmetros para avaliação da dor no RN, e se usados
isoladamente não fornecem informações suficientes para a decisão clínica.
No
entanto, não basta supor que o recém nascido tenha uma linguagem própria de
expressão dolorosa, faz-se necessário reconhecer e traduzir esta linguagem com
objetividade. Neste intuito, surgem as escalas multidimensionais como
alternativas de decodificação. As escalas são instrumentos que analisam os
parâmetros comportamentais do recém-nascido, associando-os às respostas
fisiológicas da dor, sendo que, a pontuação final obtida por elas, auxilia a
equipe de saúde na decisão da intervenção terapêutica necessária.
Algumas escalas importantes para avaliação da dor
no neonato:
- Escala Perfil de Dor do Prematuro (Premature Infant Pain Profile – PIPP):
É composta de sete
parâmetros, incluindo idade gestacional (variando de menores de 28 semanas a
maiores de 36 semanas), estado de vigília, frequência cardíaca, taxa de
saturação de oxigênio no sangue e expressão facial (testa franzida, olhos
espremidos e sulco nasolabial).
Cada indicador recebe
pontuações entre zero e três. Para qualquer idade gestacional, valores iguais
ou menores que 6 indicam a ausência de dor ou presença de dor mínima e valores
iguais ou maiores que 12 indicam a presença de dor moderada ou intensa (13).
Tabela 1 - Escala PIPP para avaliação de dor em recém-nascidos
|
|||||
Indicadores
|
0
|
1
|
2
|
3
|
|
Observar RN por 15 s
Anotar FC/SPO2 basais
|
Idade Gestacional (semanas)
Estado de alerta
Estado de alerta
Estado de alerta
|
36
Ativo
Acordado
Olho Aberto
Movimentos faciais +
|
32-35
Quieto
Acordado
Olho aberto
Ausência de mímica facial
|
28-31
Ativo
Dormindo
Olho Aberto
Movimentos faciais +
|
<28
Quieto
Dormindo
Olho aberto
Ausência de mímica facial
|
Observar RN por 30 s
|
FC Máxima
SpO2 Mínima
Testa franzida
Olhos espremidos
Sulco nasolabial
|
0-4 bpm
0-2,4 %
Ausente
Ausente
Ausente
|
5-14 bpm
2,5-4,9 %
Mínimo
Mínimo
Mínimo
|
15-24 bpm
5-7,4 %
Moderado
Moderado
Moderado
|
>25 bpm
>7,5 %
Máximo
Máximo
Máximo
|
- Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal (Neonatal Facial Coding System – NFCS):
Essa escala avalia as
respostas de dor por meio da análise da atividade facial do RN, utilizando-se
de oito parâmetros.
Atribui-se a
pontuação um para cada movimento facial presente, sendo o escore máximo de oito
pontos. Considera-se a presença de dor quando três ou mais movimentos faciais
aparecem de maneira consistente, durante a avaliação.
A NFCS é considerada
padrão-ouro para avaliação de dor em neonatos.
Tabela 2 – Escala NFCS para avaliação de dor em recém-nascidos
prematuros e a termo
|
||
Movimento facial
|
Ausente
|
Presente
|
Parâmetros
|
0
|
1
|
Fronte saliente
|
Ausente
|
Presente
|
Fenda palpebral estreitada
|
Ausente
|
Presente
|
Sulco nasolabial aprofundado
|
Ausente
|
Presente
|
Boca aberta
|
Ausente
|
Presente
|
Boca estirada (Horizontal/Vertical)
|
Ausente
|
Presente
|
Língua tensa
|
Ausente
|
Presente
|
Protrusão da língua
|
Ausente
|
Presente
|
Tremor de queixo
|
Ausente
|
Presente
|
- Escala de Dor no Recém-Nascido e no Lactente (Neonatal Infant Pain Scale – NIPS):
É composta de seis
indicadores de dor, sendo cinco comportamentais e um fisiológico. Trata-se de
uma escala válida, por se basear nas alterações comportamentais do bebê frente
ao estímulo doloroso, amplamente descritas na literatura. A NIPS tem se
mostrado útil para a avaliação de dor em neonatos a termo e prematuros,
conseguindo diferenciar os estímulos doloroso dos não dolorosos.
Seu escore total pode
variar de zero a sete. Para a pontuação obtida têm-se os seguintes
significados: zero, sem dor; um e dois, dor fraca; três a cinco, dor moderada;
e seis a sete, dor forte.
Tabela 3 - Escala NIPS para avaliação de dor em recém-nascidos
prematuros e a termo
|
|||
Parâmetros
|
0
|
1
|
2
|
Expressão Facial
|
Relaxada
|
Contraída
|
-
|
Choro
|
Ausente
|
“Resmungos”/fracos
|
Vigoroso
|
Respiração
|
Relaxada
|
Alterada/Irregular
|
-
|
Braços
|
Relaxados
|
Fletidos/Estendidos
|
-
|
Pernas
|
Relaxados
|
Fletidos/Estendidos
|
-
|
Estado de consciência
|
Dormindo
|
Agitado
|
-
|
Referências Bibliográficas:
·
Avaliação da dor como
instrumento para o cuidar de recém nascidos pré-termo; Bruna Bryenna Brito
Sousa, Marinese Hermínia Santos, Francisca Georgina Macêdo de Sousa, Anna Paula
Ferrario Gonçalves, Sirliane de Souza Paiva; FLORIANÓPOLIS, 2006;
·
Escalas para avaliação de dor em neonatologia e sua
relevância para a prática de enfermagem; Záira Moura
da Paixão Freitas, Carlos Umberto Pereira, Débora Moura da Paixão Oliveira;
·
Sociedade Brasileira de Pediatria:
A linguagem da dor no recém-nascido; Disponível em: http://www.sbp.com.br/pdfs/doc_linguagem-da-dor-out2010.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário